31 de julho de 2009

CONTATO ruidoso!

Pra começar, obrigado pelas respostas e comentários feitos no blog, por e-mail e agora também pelo orkut do Projeto Ruídos, afinal, esse projeto, desde o princípio, sempre teve um caráter coletivo e está pronto pra abrigar e difundir todas manifestações urbanas que vocês quiserem fazer. E quanto mais ruidosas melhor...
Bom, além da novidade do contato pelo orkut
http://www.orkut.com.br/Main#Profile.aspx?rl=ls&uid=12027891453943803360, estamos preparando mais uma crônica e uma pequena narrativa sobre uma das músicas do projeto. Desta vez a escolhida é TRIBAL, que já no fim de semana vai estar em destaque por aqui, com direito a uma surpresa, no mínimo, desconcertante.
É só esperar!!!!

A chuva, a gripe e o Sol

Nessa última semana, por conta da chuva constante e do friozinho que fez (ao menos aqui, no sudeste), notei que as casas, as ruas, os carros, os ônibus, os bares e até, de certa forma, as pessoas e suas relações ficaram com um certo cheiro de mofo exalando no ar. Isso sem falar do medo da gripe que tem gerado muito assunto nas mesmas casas, ruas, carros, ônibus...
Foi nesse clima que, há uns três dias, eu estava pensando num tema pra escrever, pensando com que música do projeto eu ia linkar a crônica da semana. O engraçado é que foi justamente pela falta dele que lembrei do Sol de Tribal. É que, em geral, ele costuma trazer pras pessoas imagens de calor, de luz, de aconchego, de saúde. Comigo não é diferente, tanto que em semanas como essa eu sinto uma saudade danada do Sol. Mas o fato é que o dito astro também me traz outras tantas ideias e imagens à cabeça.
O Sol me lembra, de forma ambígua e conflitante, as imagens da renovação e da rotina; do renascimento e do cotidiano; do novo e do “de novo”, principalmente quando penso nele em relação à cidade e às pessoas e conflitos que se movimentam no seu cerne, se tocando, se chocando, se compondo e se decompondo. É que o Sol, e seus ciclos de “chegada” e “partida”, marca as pessoas de formas diversas. Quem pode dizer que nunca pensou – depois de um dia difícil de conflitos, incertezas, medos ou qualquer coisa assim – algo como o que o Chico (ele mesmo) já disse em canção: “amanhã vai ser outro dia”. Isso, é claro, sem falar do ciclo maior do Sol, que marca não a passagem de um dia, mas de um ano para o outro, com todas as suas promessas de uma vida melhor: “ano novo, vida nova”! Convenhamos, esses são alguns dos maiores clássicos dos clichês de auto-ajuda e afins que se tem notícia. Esse é o sentido da renovação que me ocorre.
E a rotina? Essa é ainda mais óbvia. Um dos nomes do próprio tédio, ao menos em Português, é “dia-a-dia” (assim, com hífen mesmo). Essa tal palavra composta já contém em si a idéia de ciclos repetidos. Mas o que acho mais interessante de pensar é que esses ciclos não são só do Sol, pertencem também às pessoas, ou melhor dizendo, contém as pessoas que dormem e acordam (não importa se à luz do Sol ou na ausência dela) depois de um “dia” de trabalho, de estudo, de pressa, de ansiedade, de marasmo só pra depois ter mais um dia de marasmo, de ansiedade, de pressa, de estudo, de trabalho...
É o Sol que traz esperança e que deixa a própria vida com menos um dia! É o Sol que vem impor à cidade todas as suas expectativas inevitáveis de novidade e de “mais do mesmo”! É o Sol que fez tanta falta essa semana. É o Sol!

Um RUDE ruído
E depois de tanto falar do Sol e de como o vejo na rotina da cidade, cheguei à conclusão que nem é preciso comentar muito da letra de Tribal. Acho que pra quem leu a crônica acima, ela já é pra lá de auto-explicativa. Contudo, há ainda coisas sobre ela que quero contar.
Tribal começou a nascer há uns bons anos, cinco ou seis talvez, quando no meio de uma aula de minha Graduação eu, entediado, comecei a pensar (sabe-se lá porque...) em batidas de tambores vigorosos, de tambores rústicos, de tambores tribais. Com essa ideia rítmica na cabeça, comecei a rabiscar qualquer coisa no caderno. A poesia que surgia no papel era o que viria a ser a primeira estrofe da música que segue mais abaixo.
Confesso que em princípio me choquei um pouco com ela, pois era tão dura e tribal nas divisões (que seguiam gêmeas às dos tambores) quanto cotidiana e banal no tema. Mesmo chocado, gostei muito de imediato, mas achei que ninguém mais se interessaria por ela. Felizmente eu estava enganado...

O Chama-Dia (Diogo Avelino)


Tribal (Diogo Avelino)



É o sol, é o sol

É o sol
que arranca da pele
da cara do homem
o gosto salgado
trabalho ao sol
É o sol

É o sol
que tira da roupa
pregada no arame
o sabão e água
secando ao sol
É o sol

É o sol ó ó ó ol
É o sol

É o sol
que empreteja a pele
da bela morena
deitada na areia
queimando ao sol
É o sol

É o sol ó ó ó ol
É o sol

O sol na janela de manhã
Lambendo o olho que nem quer
Dizendo que o dia já chegou
Ruídos do povo
É o dia de novo
É o dia forçando
O acordar

É o sol, é o sol

É o sol
que empreteja a pele
da cara do homem
torrando no asfalto
trabalho ao sol
É o sol


É o sol
que arranca da pele
da bela morena
o gosto salgado
queimando ao sol
É o sol

(música incidental: Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes)

Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz



10 de julho de 2009

Sobre o Projeto Ruídos...

9 de julho de 2009



A pedra nos olhos
Na semana passada, um programa de TV mexeu bastante comigo. O tema era o crack. Resultado da mistura de restos de cocaína, amônia e água destilada, ele está entre as drogas mais devastadoras já feitas. Digo isso não só baseado no que vi no programa, mas também, porque moro num bairro onde o crack e outras drogas, com o perdão do trocadilho, são como mato. Mas a idéia de ver o tema exposto como o pus de um furúnculo que estoura na pele da cidade mexeu com meu olhar urbano.
Qualquer um que passar, à noite, em Campinas, nas imediações da Vila Rica, vai ver em semáforos, cantos escuros, esquinas e ruas viciados quase invisíveis de tão magros, com uma única, encardida e opaca cor de pele que não deixa pistas da raça, sexo, e idade que já tiveram. Parecem tão sujos quanto os trapos que eles usam pra limpar os vidros dos carros. Parecem tão mecânicos quanto os orgasmos que elas arrancam de qualquer um por quinze, dez, cinco reais que interem uma pedra.
É a noia que os move. É pela noia que ainda se movem. É na noia que perdem a si e que se perdem de todos.
Faz mais ou menos um ano, eu estava no meio de uma passeata de greve, na frente da prefeitura da cidade, quando um homem – cuja idade e mesmo os principais traços estavam borrados pelo crack – me pediu dinheiro. Entre palavras de ordem, sirenes de polícia, pragas de pedestres e ruídos de trânsito, disse o não que sempre digo nesses casos. Mas, quando olhei melhor pra ele, reconheci alguém no fundo daqueles olhos amarelos. Era um velho conhecido...
Não sei se ele me reconheceu também. Só vi que sumiu no meio da convulsão do povo e da noia que boiava na sua própria ideia.


http://especiais.profissaoreporter.globo.com/programa/2009/07/04/a-devastacao-do-crack/


Uma noite noiado
A história da música Na Noia é uma das mais curiosas do projeto. Pouca gente sabe, mas quando eu entrei em estúdio, em janeiro, tinha composto apenas sete das quinze músicas que queria no CD e ela não era uma dessas...
O primeiro mês foi o mais custoso pra mim. Pela agenda, eu teria de ficar de quinta até domingo em Sampa, longe de casa, da família, da namorada, num ritmo louco de gravar uma música por dia. Como perto do estúdio do Jalil não tinha nenhum hotel que eu podia pagar, acabei por ficar todas as noites em motéis da região. Até aí, nada demais, mesmo porque eu já estive em motéis em outras tantas ocasiões (claro que em situações um tanto mais... prazerosas...). O problema é que, aos finais de semana, os motéis só aceitam pernoites depois da meia-noite. Como as gravações iam até, no máximo, oito, nove, eu ficava “de bobeira” pelo menos umas três horas por noite.
No primeiro fim de semana, tudo era novo e excitante: a cidade, a noite, as gravações, novas composições. Meu espírito era um misto de sensações e a minha cabeça era um terreno fecundo de ideias. Mas, com o passar dos dias, e sobretudo das noites, apesar dos bons resultados musicais que conseguíamos, foi batendo um cansaço, e com ele uma certa tristeza, uma certa solidão... daí para a noia era um pulinho só.
No dia 15, uma sexta, depois de passar o dia gravando Tribal, e de ficar meio que “envolvido”, ainda que involuntariamente, por uma névoa que pairava no estúdio, saí de lá meio estranho, meio que preocupado sem saber com o que. Outro agravante era que a Suzy Q, minha moto, teve problemas de partida durante aquele dia e só estava pegando no tranco.
A sensação de mal estar foi se intensificando conforme os minutos e os quilômetros iam passando por debaixo da moto. Rodei por ruas e avenidas que não conhecia, nenhum lugar me parecia seguro pra parar. As pessoas, os carros, os faróis: tudo me parecia muito hostil, estranho, distorcido. Comecei a pensar bobagens, remoer rancores, temer perdas, um misto ruim de tudo que é humano e podre me ocorria.
Depois de muito relutar, parei a moto, liguei pra minha namorada, briguei com ela sem razão, fiquei mais só do que antes...
Tranco na Suzy e mais um tanto de asfalto. Tentei um quarto em dois, três motéis. Já era muito tarde pra mim. Ainda era cedo demais pra eles...
Tranco após tranco, rodei mais ainda até parar numa Lan House. Ninguém no MSN. Sozinho de novo, só me restava escrever. Já de cara, uma linha temática, uma estética e um tom que eu jamais havia explorado se apresentaram com força e vigor. Antes da Lan fechar, imprimi o que já tinha escrito, fiquei lendo e relendo. Liguei de novo pra Pri e, mesmo antes de pedir desculpas, li pra ela.
Depois de mais duas horas, já no motel Flor do Tucuruvi, passei boa parte da noite mexendo e remexendo na cama e em detalhes da letra. Outra boa parte, felizmente, passei saboreando o bom resultado duma noite infernal.
No dia seguinte, já no Jalil, cancelei a gravação de Espinha, planejada para aquele domingo, e gravei Na noia!!!!!
Ps: o namoro vai muito bem, obrigado


Na noia (Diogo Avelino)



Angústia que chama
Que inflama a garganta
Que canta na
alma
Que a calma não alcança
Que lança na mente
Semente de ideia

É hora do escuro
No duro do aço
Espaço sombrio
Vazio sem nome
Na fome de gente
Que sente verdade

Do puro egoísmo
Cinismo embutido
Curtido na noia
Que boia na ideia

Angústia que inflama
Que chama e que canta
Garganta da calma
Que a alma não lança
Que alcança semente
Na mente, na ideia

Na hora é
duro
No escuro do espaço
O aço vazio
Sombrio, sem fome
Na nome que sente
Gente de verdade

Do puro cinismo
Egoísmo curtido
Embutido na
boia
Da noia da ideia

Angústia na mente
Que chama, que inflama
Garganta que canta
Na calma da alma
Alcança e lança
Semente na ideia

Na hora da
gente
No duro do escuro
O espaço do aço
Vazio e sombrio
Tem fome de nome
Que sente verdade

Já boia na
noia
Cinismo, egoísmo
Curtido, embutido
A pura ideia

Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz
http://www.jalilpetriz.blogspot.com/


Ruídos (Diogo Avelino)



Vocal e guitarra: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz


Pregação (Diogo Avelino e Adriano de Moraes)


Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Ninguém sabe nada (Diogo Avelino)



Vocal: Diogo Avelino
Todos os intrumentos: Jalil Petriz

De pedra (Diogo Avelino)



Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Hora do rush (Diogo Avelino e Jalil Petriz)



Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Espinha (Diogo Avelino)



Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Uma vez (Diogo Avelino)



Vocal: Diogo Avelino
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Luz do Sim (Leandro D´ávila)


Vocal: Diogo Avelino
Backin vocal: Leandro D´ávila
Todos os instrumentos: Jalil Petriz

Humano invisível (Lourenço Netto)


Vocal: Diogo Avelino
Backin vocal: Lourenço Netto e Gilberto Tanaka
Todos os instrumentos: Jalil Petriz